terça-feira, 26 de abril de 2011

domingo, 17 de abril de 2011

Tiro Livre - 17/04


O abismo

Pascal em si tinha um abismo se movendo.
- Ai, tudo é abismo! - sonho, ação, desejo intenso,
Palavra! E sobre mim, num calafrio, eu penso
Sentir do Medo o vento às vezes se estendendo.

Em volta, no alto, embaixo, a profundeza, o denso
Silêncio, a tumba, o espaço cativante e horrendo...
Em minhas noites, Deus, o sábio dedo erguendo,
Desenha um pesadelo multiforme e imenso.

Tenho medo do sono, o túnel que me esconde,
Cheio de vago horror, levando não sei aonde;
Do infinito, à janela, eu gozo os cruéis prazeres,

E meu espírito, ébrio afeito ao desvario,
Ao nada inveja a insensibilidade e o frio.
- Ah, não sair jamais dos Números e Seres!

(Charles Baudelaire)

FALANDO O ÓBVIO...?

Há uma insistência em classificar HQs como literatura, eu nunca entendi muito bem isso.
É um meio que se relaciona tanto com literatura quanto com artes visuais, a proximidade com cada um desses pode variar de autor para autor. O fato de ser uma narrativa é o único que conta? Os limites entre as artes é cada vez menos reconhecível, mas ao tentar lidar com classificações não falamos apenas deles, então me parece claro, muito claro que HQs são HQs. Ao contrário, como teríamos literaturas claramente influenciadas pelas HQ? Pinturas históricas de caráter claramente narrativo seriam também literatura?
Encontro muitos quadrinhos cujo tratamento está mais para as artes plásticas do que para a literatura, inclusive no modo de leitura, relação com os materiais, síntese visual digna de grandes gravuristas, por exemplo.
Os limites são sempre estendidos, quebrados, retraídos, in´visíveis, mas a linguagem já está clara e entendida o bastante para que seja lida (e respeitada) como ela mesma.