No início do mês passado Alexandre Linck no Quadrinhos na Sarjeta publicou um texto muito bacana com a sua leitura da edição "Preto no preto, branco no branco".
Sua leitura partiu do incômodo sobre a questão dos gêneros e sua necessidade, culminando na leitura em si, uma leitura muito instigante aliás!
No fim ele ainda lançou um desenho que fez inspirado na HQ, o que me deixa muito feliz!
Segue o fragmento diretamente ligado à minha HQ, mas o legal mesmo é ler o texto todo, diponível aqui: QUADRINHOS NA SARJETA
"Por tudo isso, desvinculado agora, atenho-me em “Misterorror” pela leitura sincera e despretensiosa. O que mais se destaca no trabalho de Guilherme é o domínio de composição. Todas as páginas são bem equilibradas, compostas de forma interessante e segura, algo que ironicamente mais alude ao clássico do que necessariamente ao vanguardismo. Difícil é falar de enredo, já que a HQ claramente não insiste nessa direção, porém fica evidente a narrativa de desencanto moderno, diria até teológico, com o mundo. Do paraíso vamos ao industrial, dos tons de cinza ao traço rasgado no papel, do figurativo ao abstrato.

Nossa apresentadora da viagem trata-se de uma caolha com um buraco no meio da cabeça que exala algo semelhante a sangue. Cubos esburacados, escorridos e muita alusão a Gustav Klimt, até mesmo pela provocação simbolista que muitas HQs como esta aderem. Klimt não aparece pela composição simétrica, mas dá as caras no fragmentário, na hiper-informação repetitiva. Se isso do ponto de vista informacional é cansativo, tem seu barato visual – no entanto confesso que gosto mais desse choque, dessa provocação estética em contato com o narrativo mais estruturado (Melinda Gebbie, só pra citar alguém).
Devo dizer que o trecho que mais me agrada seria aquele considerado o mais nonsense: os muitos traços, assumidamente traços, ora firmes, ora esboçando movimentos a cada quadro. Vi-me olhando para a página final, aquela gota, ou o que parece uma gota de sangue do sujeito torturado. Pensei no efeito de uma gota de sangue sobre as linhas da pele, algo relativamente simples para a técnica fotográfica, mas difícil de ser traduzido em desenho, o que aconteceu metaforicamente para mim.
No mais, tendo em vista os quadrinhos não como um meio de comunicação, mas como um acontecimento tão impreciso e cheio de afecções quanto a palavra escrita, eis uma franca e desajeitada resposta que "Misterorror" me impulsionou a fazer:"
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